
Eu já sei o que eu vou ser.
Ser quando eu Crescer.
Renato Russo
A literatura possui um encanto, mágica que nos leva aos mais diversos pontos de vista e um deles é a Psicanálise.
A teoria psicanalítica foi desenvolvida por Sigmund Freud ( 1856- 1939), teoria a qual Bruno Bettelheim faz uso, como especialista na área, na literatura “infantil”, e entre os diversos contos abordados em sua obra A Psicanálise dos Contos de Fadas, dá-se ênfase nos contos dos Dois Irmãos.
O conto dos Dois Irmãos, na verdade há várias versões, porém “em todas as variações deste conto, os dois personagens simbolizam aspectos apostos de nossa natureza” ( Bettelheim, 2004) e o conflito edípico.
Na versão egípcia do conto é importante frisar um acontecimento o qual a mulher do irmão mais velho tenta persuadi-lo que o seu irmão mais novo tentou seduzi-la, esse ato dentro do âmbito psicanalítico chama-se: projeção.
A projeção ocorre para evitar um “desprazer” da realidade, é um mecanismo de defesa, a pessoa localiza algo indesejável de si e projeta no mundo externo, um exemplo é quando alguém critica o outro por ser muito desajeitado e não se dá conta de que também é.
O acontecimento da projeção no conto é importante, pois faz a criança perceber (inconscientemente ou subconscientemente) suas ações perante a realidade.
Na versão dos Irmãos Grimm, os irmãos do conto vão para a floresta e separam-se, sendo que um tem de salvar o outro depois de um tempo. Essa versão sugere um equilíbrio do aparelho psíquico (id, ego, superego ou inconsciente, pré-consciente e consciente) afinal, cada elemento não pode ser habitado por uma noção de vazio, mas sim pelas experiências pessoais e particulares o que constitui o sujeito em relação com o outro.
Uma versão interessante é quando os dois irmãos vão se aventurar pela floresta (a incerteza de que somos) e um dos irmãos acaba tendo seus desejos (provavelmente sexuais) realizados pela bruxa (figura distorcida da mãe) e quando ele recusa a obedecê-la acaba sendo punido. Esse fato é interessante por representar o complexo de Édipo, pois para o próprio Freud o primeiro impulso sexual é dirigido para figura materna no caso do menino e paterna no caso da menina.
A relação edipiana suscita sentimentos dicotômicos, ambivalentes e explosivos, tanto amor quanto ódio, com essa descarga emocional criança teme ser punida pelos seus desejos proibidos gerando culpa.
Vencido o sentimento de culpa (quando os dois irmãos estão juntos novamente sugerindo uma integração harmoniosa do aparelho psíquico e da personalidade) tanto o pai quanto a mãe são modelos de amores para o futuro da criança.
Pode-se dizer então que a literatura infantil abre um novo olhar para as diversas manifestações do ser.
Raphael Franck
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